Por que escrever? Um ensaio sobre a vocação para tristeza

Escrever é, antes de tudo, um exercício de paciência. Claro que pode com o tempo se tornar um prazer, mas adianto que, nas sábias palavras de SIMENON, “escrever não é uma profissão e sim uma vocação para tristeza”.

Se você é bom em ler entrelinhas deve ter depreendido da frase que não dá para começar a escrever achando que essa é sua profissão e que lhe dará fortuna; são tantas desilusões que, realmente, escrever se torna uma vocação para tristeza. Todavia, aí reside o poder do escritor: transformar essa constante tristeza numa inspiração interminável, numa busca insaciável pela perfeição que nos fará memoráveis, de um jeito ou de outro.

Pensar que existem dois ou três escritores que parecem fazer sucesso com coisas enfadonhas e escritos sem qualquer inspiração é, ademais, grande tolice. Todos temos talento, ele só dorme ou reside num campo que ainda não conhecemos. Se A ou B faz sucesso com uma obra que você julga ser da pior qualidade, – e sim, você pode e provavelmente está completamente errado em seu julgamento – talvez seja a hora de você perceber que a obra considerada medíocre hoje é o clássico de amanhã, vide o caso de “O Senhor das Moscas” do ganhador do Nobel, William Golding. Nunca esnobe sua intelectualidade – ou pseudo-intelectualidade – julgando um livro pela capa. Você não quer que façam isso com você. Eu tenho certeza disso.

Esse foi, então, o primeiro ponto. Não desistir em meio a tantos “medíocres”. E por favor, anote ao lado disso o fator: NÃO ME TORNAR O MEDÍOCRE QUE EU JAMAIS ASPIREI SER. Anotado isso, você será um escritor muito melhor.

O segundo ponto é bem mais aparente que o primeiro: Nunca se renda ao desespero. Isso é uma das verdades mais absolutas para um escritor. Se você sentir que aquela história não vai dar certo, não rasgue, não queime, não “delete”. Guarde. Nenhuma história merece ser abortada. Ela deve fluir no tempo certo. A idéia pode e deve amadurecer. Deixe que o tempo diga se ela vale à pena ou não. Enquanto isso, foque em outros contos, outros livros… Se inspire em si mesmo, se inspire nas pessoas… Mas não aborte uma história antes que ela tenha chance de nascer.

A seguir, a importância de escrever sobre o que se conhece, sobre o que se ama, ou ainda, sobre o que se deseja. Para escrever é importante que você viva o assunto a fundo. Não se limite às descrições parciais e limitadas: busque o que ninguém se lembra, busque a verdade que reside no fundo do baú. Não adianta “passar por cima”, o escritor se afunda num assunto. Ele morre pelo assunto, ou então morre pela sua própria inferioridade. Você deve amar profundamente o que faz, amar irá fazer você, tal qual um pai dedicado, corrigir, educar e colocar tudo no caminho certo. Não seja mais um inodoro que se acha o supra-sumo; sinta-se inferior e a humildade o fará o maior de todos. Por isso amar é diferente de adorar; amar contém crítica, adorar é um paganismo sem medidas. Por fim, escreva sobre aquilo que você deseja ler. Essa fórmula nunca falha: Fazer algo que você adoraria ver nas prateleiras irá atender ao menos 20% da população que também esperava ansiosa pela leitura daquilo – vide o exemplo da Pixar.

Logo, escrever é, de fato, essa vocação para tristeza e dela [dessa vocação] emerge a derradeira questão de ultrapassar os próprios limites sem que ninguém apóie você. Se ninguém lê, então do que adianta nosso trabalho? Adianta para que alguém venha e LEIA. Nossa função é passar conhecimento, não guardá-lo numa caixa. Sempre esperamos o estrelato, mas nem sempre conseguimos isso em vida. Se isso o deixa mais tranquilo leitor-escritor, saiba que não há melhor realização do que a de ver nosso trabalho completo. E essa é a nossa vocação.

Tome nota dessas coisas e a sua vocação para tristeza vai ser ainda mais gratificante.

7 Respostas to “Por que escrever? Um ensaio sobre a vocação para tristeza”

  1. Mimimi, achei mó interessante o jeito que você escreve não sei pq -q *u*

    Kida-kun, Kida-kun…o que é un-block? acho que nunca ouví essa palavra na minha videnha ;-;” /noob

    See Ya! *–*

  2. sardinhaplanet Says:

    Como sou jornalista e escritor, creio que eu tenha dupla vocação para a tristeza!
    De fato, seus conselhos são muito valiosos. Meu favorito é guardar idéias…elas podem não estar maduras hoje (ou é você que não está maduro o bastante?), mas um dia podem vir a calhar. Essas histórias sempre podem ser reescritas…e até mesmo terminadas (ora, muitas vezes começamos e não terminamos, mas isso não é motivo para se render. talvez tudo o que faltou foi uma pitada de inspiração da primeira vez).
    Mas enfim, se você escreve sobre o que ama (ou melhor ainda, se ama escrever!) confie em si mesmo, que sua paixão te levará longe!

  3. Bem, vi hoje teu blog e estou gostando muito. Seu post me inspirou um pouco (apesar de eu não ter de fato aspirações pra escritor, mas sempre gosto de pensar em histórias, mas sempre vencido pela preguiça). Entào, comofas? Aguardo ansiosamente mais posts e me reporte sempre das atualizações pelo MSN, se puderXD

  4. “Vocação para a tristeza”… Isso falou fundo em mim.

Deixe uma resposta para Kaito Miharu Cancelar resposta